sábado, 14 de março de 2009

Artigo revista FHOX, edição 126

Impressão no Paredão

 

Antes de começar meu trololó, quero agradecer aos editores da FHOX e especialmente meus leitores. Completo nessa edição 10 anos como colunista, nesse Dia-a-Dia. O engraçado que inicie minha colaboração numa edição cuja capa era um foguete vestido de dólar caindo em cima do mercado fotográfico. Essa capa seria atual nos dias de hoje. Dizer que nessa década as coisas mudaram é chover no molhado. Minha primeira coluna falava de manutenção de minilabs, assunto que positivamente não domino. E que desejava passar a idéia que também conhecia minilab, como Takeda, a quem sucedi na Noritsu. Besteira minha. Técnica é com ele. Encontrei meu espaço debatendo temas mais gerais, quase uma crônica do mercado. Assim, agradeço a paciência e a boa vontade com esse escriba.

 

Como qualquer situação que envolve gente, o mercado fotográfico tem seus dogmas. Um dos mais conhecidos é “ninguém mais imprime”. Já se gastou muita tinta sobre o assunto. Boa parte vai na direção que só haverá impressão quando se agregar valor. Daí a enorme quantidade de artigos sobre fotoprodutos e photobook. Sobre isso não há dúvida alguma. O 6. Congresso Paulista de Foto e Vídeo tem várias palestras nesse sentido. Não é à toa. São ferramentas super importantes nos dias de hoje.

 

Não quero ser advogado do diabo. Nem poderia, pois posso ir contra interesses da empresa que represento. Mas, quero colocar uma pimentinha, bem forte, ao gosto de duas amigas minhas. As pessoas precisam mesmo imprimir?

 

Na época do filme, não havia alternativa. Imprimia-se tudinho, mesmo as fotos indesejáveis. E, vamos reconhecer, 90% ou mais das pessoas raramente guardam com todos os cuidados e pior, dificilmente folheiam os álbuns. Talvez quanto bate uma saudade. Assim, não é que as pessoas queriam imprimir. Simplesmente não havia alternativa. A curiosidade era a causa, a impressão a conseqüência. Impressa, ia para a caixa de sapato. E fica lá....

 

Hoje se tira uma enormidade de fotos. Muito, mas muito mais. E como as pessoas se satisfazem? Olhando para um monitor.

 

Uma das máximas é: “computador fica lotado, assim vão ter que imprimir”. Outra: “ah, se pega um vírus, já era”. Vocês devem conhecer o Orkut, site de relacionamento do Google. O brasileiro adora. Há 30 milhões de perfis. Somos os campeões. Bem, hoje as pessoas “sobem” as fotos para o provedor do Google e todos aqueles que estão na rede de relacionamento vêem essas fotos. Não há necessidade de guardar as fotos no HD do computador. E num só clic, todo mundo vê o que você quer que seja visto. Por que imprimir? Não precisa.

 

O que se imprime hoje? Os consumidores elegem aquela super foto da viagem, ou aquela que contenha seus amigos e faz a impressão e coloca num porta retrato. Momentos mais comuns da vida, dificilmente serão impressas. Vão ficar no monitor. E mais do que óbvio, que as situações chaves de nossas vidas, como casamento, formatura e festas de aniversário de nossos filhos serão devidamente guardadas em belos álbuns. Por isso que o fotógrafo profissional continua bem na fita. E vamos combinar: a qualidade das fotos tiradas pelos consumidores em geral é ruim. O monitor esconde isso. Assim, contratamos fotógrafos para registrarem aqueles momentos especiais e que nos vão entregar um belo de um álbum prontinho. Daí, é só colocar na estante (não é na caixa de sapato).

 

A que conclusão quero chegar? Meu amigo lojista, hiper angustiado: não faça planejamento de seu negócio calcado na idéia que as pessoas um dia voltarão a imprimir. Não vão. O que fazer? A matéria da FHOX, edição 125, sobre Mix ajuda a responder essa questão. Seu negócio precisa ser cada  vez mais diversificado. Sei que existem campanhas que querem estimular a impressão. Louvo a iniciativa, mas, sinceramente, não vejo resultado prático.

 

 

Edmundo Salgado

FHOX, edição 126

Março de 2009.

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