A impressão é que fica
Nos corredores da Fotografar’09 fui abordado por dezenas de pessoas, declarando terem lido o meu último artigo na Fhox. Ótimo! Felizmente a maioria me cumprimentou, parabenizando pelo tema. Mas, sei que deixei muita gente intrigada e contrariada. Alguns entenderam que decretei a morte do mercado. Claro, são opiniões mais apaixonadas.
Por isso, quero explorar um pouco mais o assunto. Fiz uma distinção importante: o consumidor não precisa mais imprimir, ao contrário de que se imagina, que o consumidor não queira imprimir.
Ora, se a discussão se prender a uma questão de vontade, estamos perdidos. A situação acaba tendo um caráter maniqueísta – sim ou não – o que impede uma estratégia de marketing. Fica um discurso ideológico, que normalmente não leva a nada.
Ao dizer que o consumidor não precisa, acabo de lançar um desafio para nossos marqueteiros. O marketing não serve para suprir necessidades? Provocar desejos? Nossos lojistas têm esse desafio. É óbvio que isso não é de hoje. Há mais de 04 anos estamos batendo na tecla de novos produtos, especialmente fotoprodutos e photobooks. Falamos também de estúdio e scrapbooking. Insisto nessa tese amigo lojista: esqueça essa idéia que as pessoas não querem imprimir. Trabalhe sempre com a seguinte perspectiva: como faço para o consumidor sentir a necessidade de esquecer um pouco o virtual e colocar no papel seus momentos vividos. Coloque Tim Maia no karaokê e responda a pergunta do consumidor: me dê motivo!
Sei que dá um baita trabalho. Sei que exige empregados mais preparados. E mais caros. É a saída. E como repito insistentemente: a tecnologia para a produção é o menor problema nessa equação. Há máquinas, softwares, dispositivos, financiamentos à disposição. A Fotografar foi pródiga nisso.
Para dar dimensão numérica a questão da impressão: nos EUA, segundo a PMA Marketing research 2009, serão impressas em 2009, 17,8 bilhões de cópias. Em 2000 foram 30,4 bilhões. Uma queda de 41%! Agora, sabe qual o percentual de famílias americanas que tem câmera digital? 78%. Oito em dez famílias tem uma câmera. Imagine quantos bilhões de clics! E em 2008 pela primeira vez houve queda nas impressões domésticas (home print). No Brasil, o cenário não deve ser diferente. Enquanto isso, explodiram os sites de armazenamento de fotos, de relacionamentos, etc.
O mercado profissional continua muito bem, necessitando de mais máquinas para atender a produção, para minha sorte. O amador (que palavra horrível que a gente inventou) cai, especialmente na sua principal commodity, o 10 x 15.
Outra coisa que no Brasil devemos estar cientes: ainda que fizemos muito, temos muito que fazer. Alguns acham que a salvação do mercado é a chegada de milhões ao mundo maravilhoso do consumo. Olha, nesse momento, isso vai demorar muito. É só verificar alguns dados: 71% dos domicílios brasileiros têm renda até 05 salários mínimos (R$ 2.325,00). E temos mais de 50 milhões de pessoas que dependem do programa Bolsa-Família, cujo valor máximo é de R$ 182,00 por mês. E em seis estados, o percentual de pessoas atendidas passa dos 50%!! A desigualdade social brasileira ainda é imensa.
Claro que o mercado consumidor deve crescer, a despeito da crise. Temos necessidades ainda a serem atendidas. No entanto, não acredite também que a economia brasileira vá crescer de tal modo que introduza no mercado novos consumidores que permitam compensar eventuais perdas.
Em resumo: o mercado fotográfico brasileiro está ciente de seus desafios. Trabalhe sempre com os pés no chão. Não há nada no horizonte que indique o surgimento de uma nova onda de consumo independente de nossos esforços.
Edmundo Salgado
Maio de 2009.
FHOX, edição 127.
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