quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Artigo Revista Fhox edição 130

Mentalidade de Camelô

É notável verificar que mesmo com todos os Congressos feitos, Road shows, encartes em revistas, assistimos um mercado ainda usando e abusando da velha política de preços baixos para se diferenciar da concorrência.

O fornecedor de produtos fotográficos seja ele varejo ou laboratório profissional, parte da premissa que tudo é caro. Desqualifica o produto do fabricante ou revendedor alegando eventuais dificuldades de venda ao consumidor. Nem sequer se dá ao trabalho de pensar o produto, como colocá-lo, quais as armas de marketing que serão utilizadas. Pensa que consumidor é um pobre coitado, que nunca tem dinheiro. Todos fazem parte da classe D. Portanto, tem que vender baratinho. É a nefasta mentalidade da 25 de março (rua de comércio popular em São Paulo). Aliás, quem vê a TV acha que a 25 só tem bugiganga. Não é verdade. Há lojas excelentes, centenárias, e tem na variedade de produtos sua diferença. Há o preço também. Mas, não é só isso. Com pirataria e descaminho, o consumidor brasileiro está sendo treinado a ver tudo como se fosse possível comprar baratinho no camelô. Esse é o efeito nefasto do que chamo de mentalidade de camelô. As empresas são colocadas no mesmo patamar, marcas não existem e só vale a prática do precinho.

Dirão alguns, ora Edmundo você quer vender alguma coisa meio cara e está querendo se justificar. Isso me incomoda há muito tempo. O comércio sempre acha que o fabricante ou o distribuidor está querendo ganhar uma montanha de dinheiro em cima dele. Querendo empurrar produtos goela abaixo. Felizmente a maioria dos fornecedores respeita as boas práticas comerciais. Há os espertos, mas o mercado tem mecanismos de eliminação muito rápidos. Sinceramente, observo que os varejistas esperam que você venda a máquina e vá a loja dele e faça também a venda ao consumidor. Claro que hoje deva haver muita cooperação entre varejo e indústria no esforço de vender, porém cada macaco no seu galho. À indústria compete encontrar as melhores soluções tecnológicas que viabilizem a venda de determinado produto. Ao varejo cabe estabelecer as estratégias de marketing para a promoção e venda da mercadoria. O varejo conhece o consumidor. Sabe de suas necessidades. Será? Bem, aí são outros quinhentos. Creio que é isso o xis da questão. Na parte de serviços ainda há muito que fazer. O varejo tem condições de oferecer um sem número de serviços fotográficos ao consumidor. E talvez não tenha a exata noção do quanto desses serviços resolvem um monte de problemas do consumidor. Se o consumidor estiver satisfeito, está disposto a pagar um bom preço. Essa situação é muito presente nos fotoprodutos e nos photobooks. Tem um longo caminho a ser percorrido.

Dentro da linha de mentalidade de camelô, não posso deixar de comentar uma situação vivida pelo meu filho. Acaba de se formar e está à espera da festa. A empresa de formatura emitiu um carnê de pagamentos das prestações. Até aí tudo bem. Mas, foi informado que ao retirar os convites da festa deveria deixar cheques pré-datados em substituição ao tal carnê. “Sabe como é, precisamos evitar a inadimplência”. Sinceramente, achei uma violência. Nesse caso, proponho aos formandos que façam o seguinte: analisar com todo o cuidado possível o cadastro da empresa, como por exemplo, ela terá condições de bancar a festa? Quais são seus parceiros? E os trabalhos anteriores? Assim, dentro desse clima de mútua desconfiança, todos devem ser analisados. E vale dizer: a qualidade de serviços está bem abaixo do preço cobrado. O formando é tratado como gado. É um mercado maravilhoso. Mas, ainda precisa passar por uma boa reforma em suas práticas comerciais.

Para terminar, a Revista O Globo n. 265 trouxe uma matéria sobre o reconhecimento da fotografia como arte. É mercado que está em efervescência. Há um grupo de fotógrafos que alcança de cara R$ 5.000,00 nos leilões de arte. E daí para cima. Pois é. E a gente discutindo centavos.

Edmundo Salgado

Agosto de 2009.

FHOX, edição 130

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